A Banalidade do Belo
Às vezes fico procurando uma palavra ou alguma expressão adequada para tratar de uma inquietação que me surpreende por que não se origina do bom-senso ou de alguma mínima sensibilidade artística.
Hoje encontrei uma, a “ataraxia” ou: a imobilidade da alma.
Outra expressão veio sendo montada devagar nessa minha alma desinquieta.
No sentido original em que o termo “banalidade” foi acoplado, por Hannah Arendt” ao “mal”, há uma concentração de significações que oferecem a síntese do horror como o observado em um típico “homem de bem” (como hoje se usa com sarcasmo de corroer a carne da coisa literal).
E, talvez imprecisamente, é exatamente essa palavra a que escolhi para outra parceria pois venho sentindo “a banalidade do belo”, nascido de uma facilitação perfeccionista na sua produção ou seja, exuberância como uma forma de “ hybris”.
A beleza estudada pelos estetas e pelos filósofos pode fascinar tanto para o bem, quanto para o mal (como no caso da história do anjo portador da luz e o mais próximo à divindade, Lúcifer).
Segundo a educação que recebi na infância, a beleza era a expressão da divindade e, assim, a experiência do belo era uma graça, como se me fosse permitido comungar com a verdade e a beleza (que também Keats aproximou, como se beleza e verdade pudessem ser irmanadas desta maneira).
Então como posso cometer a heresia de aproximar ao belo a sugestão de que seu esgotamento é possivel por ser resultado da sua banalização?
No entanto, é disso que se trata na minha vivência atual. O abuso repetitivo e afrontoso da beleza.
Por isso também escolhi esta linda foto, inocente e florida. Pois ela me encantou de um jeito torto. O corretor de imagens ali provoca algo desumano: por exemplo, facilita a perfeição do foco que o olho desinstrumentalizado não alcança, reforça contrastes de cores e sombras…
É preciso, para mim, que o artista reaja como Leonardo da Vinci, estuporado com sua escultura do Moisés. Num gesto de duplo ou triplo sentido, Leonardo lesou a perfeição que ele via na sua própria criação. Bateu no joelho de Moisés com seu martelo e exclamou: “Parla! Fale!” E o silêncio se fez sobre o joelho maltratado.
Não dou conta das propostas perfeitas e volumosas.
Ou da facilidade pela qual temos acesso a elas.
Essa é a banalização da beleza, promovendo a diluição do sagrado que nela habita.