
Smallcat em foto de Rafael Falcão
Autora:
Jansy B S Mello
Gato Adormecido
Ontem minha casa e a rua ficaram silenciosas desde o amanhecer, nem caminhantes nem carros se moviam. Não se ouvia até mesmo o canto dos pássaros.
No final da tarde meu cãozinho, isolado no canil, entrou em pânico. Acabei deixando-o ficar dentro de casa como em dia de tempestade com relâmpago.
Os gatos não se alteraram. Passei bons momentos observando-os aconchegados nas almofadas e lembrei dos inúmeros quadros nos quais eles davam o toque certo de domesticidade serena.
Se o isolamento da pandemia pareceu-me às vezes deformar a minha sensação de pertencimento e de família, o gato adormecido me garantiu uma continuidade secular, apresentando um trecho da paisagem do mundo.
Graças a ele as bordas do hoje, do ontem, e do amanhã se desfizeram e sua imagem se transformou num túnel do tempo no qual um gato se tornava uma sucessão de mil gatos.
Já o cachorrinho, tão próximo desse imemorial da força aborígene que vislumbrei no felino, se fragmentou em saltos e latidos, precisando de um abraço…